O Diário de Duas Bicicletas (2023)
“Nossa ideia é discutir a tradição no corpo, do popular ao erudito. Por isso o livre trânsito entre as danças populares brasileiras, o balé clássico e a dança contemporânea, onde entendemos que o conceito de tradição, o qual temos como matriz, está o tempo todo sendo revisitado onde a “tradição” se torna algo vivo em permanente transformação “.
“O Diário de Duas Bicicletas”, um espetáculo interativo, participativo, contemplativo, relacional, popular e contemporâneo com músicas próprias, com letras musicais educativas e formativas com foco principal no compartilhamento de saberes com o público, resgatando a importância da dança na sociedade e seu papel fomentador no exercício de sua cidadania e sua relação intrínseca com a comunidade. Por ser um espetáculo versátil, itinerante, ambulante e mambembe, ele agrada os mais diferentes públicos e pode ser apresentado em diversos tipos de ambientes como parques, praças, teatros, salas de espetáculos etc. No espetáculo, o grupo rompe com o pensamento estigmatizado o qual a dança contemporânea é vista pelo público. Uma mudança de paradigma necessária para redimensionar e colocar em debate a importância da dança na construção da cidadania e assim, ampliar sua área de atuação, firmando o compromisso de descentralizar o acesso a esse conhecimento dando continuidade para as “outras formas” de pensar a cultura brasileira contemporânea. O grupo chega no local com uma estrutura visualmente diferente e inusitada e duas bicicletas performáticas anunciam a chegada da trupe de artistas que desperta a curiosidade e o interesse do público. As bicicletas customizadas são apresentadas estrategicamente como uma cenografia móvel, interativa, performática e diferenciada, uma espécie de miniteatro ambulante, que pode circular nos entornos do local de apresentação, convidando o público a seguirem juntos para o local onde o espetáculo será apresentado. As bicicletas, possuem equipamentos de som portáteis e carregam adereços, figurinos e materiais que são utilizados pelo elenco e em alguns momentos pelo público, construindo uma confluência relacional entre coreografia, música, adereços, cenário, ambiente e público. O espetáculo faz uma viajem lúdica pelas memórias da cultura popular brasileira, dialogando com dimensões inusitadas do cenário, figurino, adereços e bonecos, destacando-se para além das alegorias estabelecidas e com forte inspiração na cultura popular brasileira, construindo uma dramaturgia urbana e interativa. Na encenação, coreografias das danças populares brasileiras, como frevo, maracatu, samba, afro etc. e ações interativas, cirandas, rodas e outros desenhos coreográficos, como por exemplo: o popular ‘trenzinho” misturam elenco e público que se tornam um único corpo, onde a impossibilidade de identificar de imediato quem está no elenco e quem é o público, rompe os limites que separam público e artista, a intenção é exatamente esta: entre a linguagem da dança contemporânea e as suas amplas possibilidades, entre as danças populares brasileiras e a transmissão de conhecimentos históricos e através destes “entres” que o espetáculo tem a maestria de provocar os rompimentos que os separam e com estas possibilidades constroem a dramaturgia do encontro, onde público, artista e dança são enaltecidos e presenteados por estes “entres”. O público é levado a se tornar protagonista, compondo uma dimensão sofisticada de uma encenação alegórica dançante e contemporânea, abrindo um “arco” de possibilidades na confluência entre dança, música, percussão, cenário, coreografia, figurinos, público e o espaço de apresentação. Um “fazer artístico populesco” que tem a excelência, sofisticação e irreverência de um espetáculo conduzido pelo grupo e pelas histórias das danças que são contadas na trilha sonora apresentadas de forma performática. No figurino, a conhecida “saia de chita” muito usada em diversas manifestações populares brasileiras, aqui é apresentada como elemento cenográfico, utilizada, também como adereço e figurino, o grupo vai modificando o uso da saia, apresentando diferentes personagens da cultura popular brasileira. A saia de chita vai se transformando: vira vestido, vira indumentária indígena, vira peixe, vira o que remete à um dos espetáculos mais famosos do grupo: o espetáculo Delírio (1999), solo de Ângelo Madureira, que recebeu muitos prêmios e críticas importantíssimas pois passou por muitas cidades brasileiras e diversos países, durante estes quase 25 anos de percurso, o espetáculo “Delírio” nunca deixou de ser requisitado por programadoras, programadores, curadoras e curadores de diversas partes do mundo. Em “Delírio”, Ângelo Madureira utilizando um colchão, cobertor e um travesseiro se transforma em vários personagens da cultura popular brasileira, em “O Diário de Duas Bicicletas” é a vez da saia de chita, apresentar a riqueza dos personagens da nossa cultura brasileira.
Direção Artística e Musical, Composições, Criação, Coreografia, Pesquisa e Roteiro: Ângelo Madureira
Direção Geral, Criação, Coreografia, Pesquisa: Ana Catarina Vieira
Direção técnica, pesquisa, cenografia, iluminação e montagem cenográfica: Juliana Augusta Vieira
Músicas: Ângelo Madureira, Bruno Serroni, Beto Madureira, Daniel Conti, Fabio Luchs
Edição de trilha sonora e masterização: Fabio Luchs
Locução (voz – histórias): Iara Maria Moretti Vieira
Elenco: Ângelo Madureira, Ana Catarina Vieira, Ana Noronha, Beto Madureira, Fabricio Enzo, Stephanie Borges
Crédito das imagens: Geovana Fraga, Giorgio D´Onofrio, Benedito Moura, Monica Garcia